segunda-feira, 9 de abril de 2007

- O Etanol - Parte da solução ou mais um problema?


A comida pode virar fumaça e o que é doce pode se tornar amargo



A inovação na área dos biocombustíveis pode aparentemente só trazer benefícios aos seres humanos, principalmente neste período de preocupação ambiental e altos preços do petróleo. Porém a utilização de matéria-prima orgânica para a produção de combustível esconde um lado negro ignorado por muitos, principalmente no se tratar de matérias primas básicas como o milho.
Seguindo a lei da oferta e da procura, o preço do milho tem aumentado consideravelmente nos últimos tempos, devido a grande demanda por parte de países como os EUA, que o utilizam para produzir o etanol, um dos principais biocombustíveis.
“Com a produção atual de etanol, o preço do milho já subiu, encarecendo o produto inclusive no México, onde é a base da alimentação (do povo)”, disse José Goldemberg, secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo e também professor do Instituto de Eletrotécnica e Engenharia da Universidade de São Paulo (USP).
Em outros países que não utilizam produtos que são usados como alimento, este fator não é um problema, ainda assim ele não está isento de facetas negativas.
Em muitas fazendas no Brasil, a cana-de-açúcar ainda é queimada antes de ser cortada, prática que gera uma grande poluição, tornando a valor ambiental do etanol nulo. Os fazendeiros precisam, além de buscar desenfreadamente mais lucros, não se esquecer de suas responsabilidades ambientais, como tratar dos dejetos produzidos no plantio da cana-de-açúcar, que muitas vezes são jogados nos mananciais próximos, ou simplesmente acabam em lençóis freáticos quando lançados no solo. O uso de agrotóxicos e insumos agrícolas também é bastante prejudicial ao meio ambiente, como também a intensificação do desmatamento de áreas florestais para aumentar a área plantada. Todos esses fatores precisam ser levados em conta e combatidos para o etanol poder realmente ser chamado de uma das soluções para o aquecimento global.
Não só os danos ambientais permeiam a indústria da cana. No Brasil, a colheita da cana-de-açúcar em várias propriedades ainda é feita por bóias-frias, que trabalham exaustivamente, precisando cortar em média 8 toneladas por dia para ganhar no final do mês R$ 500,00 ou menos. Este trabalho extenuante e desumano mata vários trabalhadores devido ao esforço excessivo ou, quando não mata, lega-o danos irremediáveis à saúde, como problemas respiratórios e nas articulações, decorrentes da fumaça das queimadas e dos movimentos repetitivos.
Não podemos nos deixar iludir por tantas notícias positivas que divulgam sobre o etanol, que encobrem o universo de questões que ainda precisam ser resolvidas antes que esta opção possa ser conclamada como a solução da escassez do petróleo e do aquecimento global. Eu, você e toda a população do Brasil e do mundo precisamos pressionar os governos e produtores para que estes não tentem nos enganar e enganar a eles próprios, prejudicando ainda mais nosso planeta em troca do lucro dos usineiros.


Alessandro Muniz